segunda-feira, 20 de novembro de 2017

Rugidos, sussurros & cantorias

Fruto da massificação do automóvel, surgindo a cada dia exemplares cada vez mais parecidos entre si, os estrategas das diferentes marcas procuram colocar o selo da diferenciação nos seus modelos, de modo a que os seus clientes obtenham algo que nunca antes tenham visto noutros automóveis. Dos formatos da carroçarias às conjugações de cores, dos desenhos dos faróis aos detalhes nas superfícies vidradas e até às próprias antenas, nada pode ser deixado ao acaso!
Imagens: Ford

Uma das mais recentes tendências recai na sonoridade dos motores ou dos automóveis como um todo, pretendendo-se (re)criar elementos identificativos ímpares, dotando-so de uma particularidade que nenhuma outra viatura tenha tido até à data. Algo que provoque nas pessoas uma reacção assertiva do tipo “aquele carro que ali vem é o modelo X ou Y”, sem que para ele se tenha sequer de se olhar. Outros há que, por inerência dos portentos dos motores que os alimentam, se tenham que baixar os incomodativos graves que sacodem a vizinhança da cama, nomeadamente de manhã, quando se sai para o trabalho. Há ainda os que, tendo nascido demasiado silenciosos, são alvo de uma intervenção que lhes dota de uma de espécie de cordas vocais, quase os pondo… a cantar!
Claro que para os menos atentos a esta coisa do mundo automóvel, um som de um motor quase não se distingue do outro, a não ser que a coisa seja tão acutilante que, por vezes, até provoque um involuntário virar de cabeça, acompanhado de interjeições mais ou menos abertas – correndo-se as vogais do “ahhhhhhh!!!!” ao “uhhhhhhh!!!” – ou mesmo do tipo “lá está o pintas a dar nas vistas!”. Já os mais conhecedores petrolheads conseguirão quase sempre identificar o número de válvulas e a cilindrada do motor, o modelo e até a geração a que pertence o exemplar que aí vem!
Imagens: Nissan

É, por isso e neste caso em particular, tudo uma questão de sons, surjam eles em excesso, mais equilibrados ou em quase completa ausência, como nos mais recentes modelos eléctricos, viaturas que, se estivermos distraídos, só nos apercebemos da sua proximidade pelo suave silvo que emitem, pois pouco ou nenhum barulho fazem quando em movimento.

Amansar o bichinho, a bem da vizinhança!
Mas é indesmentível que o ronronar de um bom automóvel, nomeadamente um desportivo, provoca invariavelmente um sorriso a quem o vê… ou não, dependendo da hora a que esse suave purr passe a um sonoro ROARRRRRRRRRRRRRRR!

Modelo que se encontra, invariavelmente, neste patamar é, o Ford Mustang, nomeadamente quando acordam em simultâneo os múltiplos cavalos dos seus motores – em Portugal há-o equipado com um V8 com uma coudelaria de 418 cv e um quatro cilindros com outra de 314 cv – sendo um vê se te avias de acordares em sobressalto das camas de quem viva nas suas proximidades!
Como os dos vizinhos de um ex-empregado da Ford nos EUA, que invariavelmente o chamavam à atenção pela sonora rouquidão matinal do seu tão peculiar modelo. Ciente dessa realidade, propôs à marca a aplicação do modo “Good Neighbour” (ou "Bom Vizinho"), uma espécie filtro electrónico que limita um pouco esse híper-vitaminado acordar. Algo que se irá tornar realidade na geração 2018 do modelo, fazendo com que o Mustang seja primeiro automóvel do mundo em que os condutores podem, através dessa solução, programar diferentes sons do motor para horários específicos, transformando o seu rugido de assinatura num bem mais suave ronronar.

Já agora, na eventual impossibilidade de poder ter à sua porta um exemplar deste pony car do catálogo da marca – os seus preços variam dos € 49.500 aos € 102.200, fora eventuais extras e despesas de transporte e legalização – pode, ao menos, ter consigo a sonoridade do bloco V8 quando o seu telemóvel tocar. Clique aqui para saber como descarregar, sem custos, o respectivo ringtone (válido para para Android ou iPhone).

De quase afónico a cantor lírico
Voltando ao domínio dos silenciosos automóveis eléctricos, o mais recente exemplo de evolução sonora vem da Nissan, marca que no recente Salão de Tóquio surpreendeu os visitantes com a introdução do projecto "Canto", termo de origem latina com que pretende definir o som dos seus futuros veículos electrificados.

Com o objectivo de proporcionar um som distinto da Nissan face aos seus pares no mercado, a Nissan desenvolveu este conceito derivado do latim e que significa "Eu canto", o qual varia em tom e intensidade dependendo se o automóvel está a acelerar, a desacelerar ou a recuar. É activado a velocidades entre os 20 a 30 km/h, dependendo dos requisitos de cada mercado, demonstrando vitalidade e confiança, numa representação da sólida posição da marca japonesa no mercado dos automóveis electrificados.
Projectado em prol da segurança, servindo de alerta para a envolvente onde circula, o “Canto” dos futuros modelos eléctricos da Nissan será perfeitamente audível, sem que se torne perturbador para peões, residentes e passageiros, pretendendo-se que enriqueça as ruas e avenidas de uma cidade, com a tal sonoridade distinta. 

Tudo para que, um dia, se possa dizer ou assumir no subsconsciente, mesmo sem olhar: “O automóvel que aí vem é um Nissan”!
Cumprimentos distribuídos irmãmente e até breve!
José Pinheiro
Notas:
1) As opiniões acima expressas são minhas, decorrentes da experiência no sector e de pesquisa de várias fontes;
2) Direitos reservados das entidades respectivas aos ‘links’ e/ou imagens utilizados neste texto, conforme expresso.

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